
A farra do boi só dá boi de piranha!
Seguindo ao norte pela N1, a única estrada do Nepal, cheguei a um vilarejo perdido entre as altíssimas montanhas. Estava numa missão de autoconhecimento e descoberta, e ouvira falar que naquele insólito platô havia alguém que poderia me ajudar: o Guru Cubaca.
Parei minha lhama (?) ao sopé de uma imensa escadaria. Subi os degraus e toquei a campainha, cujo som parecia uma buzina de nevoeiro. Ouvi passos. A porta rangeu. Uma figurinha insignificante apareceu por uma fresta da porta e quase que inaudivelmente, pronunciou as seguintes palavras: - Que é?
- Gostaria de falar com o Guru, ele está?
- Vou ver. Entre.
O interior do mosteiro era pura paz e simplicidade. Parecia um cabaré de Las Vegas, o que percebi ser uma alegoria sobre as tentações terrenas. Até a stripper que pulou no meu colo fazia parte da encenação, aposto. Segui o homenzinho por entre alcovas fechadas com cortinas de contas, palcos com dançarinas núbias, cabines privê, camas king size com surubas rolando e por fim, um escritoriozinho muito fubenca, empestado do cheiro de charutos e uísque barato. - Vai, desembucha! - disse o homenzinho, que nada mais era que o próprio Guru Cubaca!
Só aí reparei na indumentária do mestre: vestia uma camisa do Fortaleza Esporte Clube, chinelas havaianas desgastadas de um lado e um bermudão cinza da O.P. O Guru usava ainda óculos bifocais de aro vagabundo e um bigodinho fino que o deixava a cara do Irapuan Lima.
- Mestre - comecei; - vim falar com o senhor para descobrir o sentido da vida, a quintessência do Universo e afinal, quem matou Salomão Ayala.
O mestre deu uma cusparada no chão e sentenciou: - Parece coisa de viado, mas tudo bem, tenho um lugarzinho pra você - . Quando fui dar meu cartão, percebi algo errado: aquela stripper do começo da história roubara minha carteira!
Passei a trabalhar no cabar... digo, no mosteiro sagrado, onde compartilhava com os outros discípulos a sabedoria do mestre. Ele nos instruía todo dia, e dentre suas pérolas, ainda posso lembrar saudoso:
O câncer evolui. Vai evoluir tanto que no futuro, vai virar uma coisa parecida com um ser humano, mas muito mais fedorento. Ao mesmo tempo, nós, seres humanos, vamos involuir, e viraremos uma célula defeituosa que vai destroçar, justamente, o Oncoman. Doce ironia!
Ou então essa jóia de sabedoria, a respeito das sutilezas da criação:
A natureza faz tudo errado. As abelhas são atraídas pelo órgão reprodutor das plantas, cujo aroma varia do jasmim à alfazema. Já o homem é atraído pelo órgão sexual feminino, cujo perfume varia do peixe fresco ao bacalhau de dois dias. Obviamente alguém trocou os memorandos!
Depois de anos de aperfeiçoamento da aura e transmigração do ser psíquico, resolvi que era hora de sair e enfrentar o mundo, armado com minha nova couraça filosófica!
- Aonde a boneca pensa que vai? - disse amistoso o Guru Cubaca.
- Vou sair e divulgar a nova verdade, mestre!
- Sei. E quanto a isso?
O mestre me mostrara a conta do Curso Teosófico Tântrico para Desatarrachamento da Alma, e tinha mais casas decimais que as reencarnações do Buda. Aparentemente, minha estada no mosteiro e os conhecimentos que adquiri tinham um preço. Não tive outro jeito senão ficar e trabalhar para quitar a dívida.
Agora trabalho no cabar... digo, no mosteiro como crupiê. Pior sorte teve um amigo meu da Dinamarca, que trabalha no setor de charges eróticas do mosteiro. Aquilo podia parecer um cabaré, mas era um cabaré de respeito. Lá não era lugar de gozação, pô!